Pessoas trans no desporto: regras de elegibilidade, desafios e resistências

  • Ana Lúcia Santos Centro Estudos Sociais, Universidade de Coimbra
Palabras clave: desporto, rugby, pessoas trans, testosterona, sexo

Resumen

Em 2003, o Comité Olímpico Internacional (COI) emitiu regras de elegibilidade para pessoas trans e, desde então, vários órgãos desportivos têm vindo a elaborar as suas próprias normas. Algumas federações aplicam regras baseadas na auto-definição de sexo, enquanto outras aplicam regras baseadas no sexo atribuído à nascença ou no momento em que a afirmação de sexo foi legalmente realizada. Este artigo aprofunda o debate sobre a inclusão de pessoas trans no desporto através da apresentação do estudo de caso do rugby, cuja federação internacional estabeleceu, em 2020, regras trans-exclusivas sob o argumento de competição justa e proteção da integridade física de mulheres cisgénero. É apresenta uma análise crítica aos fundamentos destas políticas e discutidas as consequências de abordagens similares na carreira desportiva de pessoas trans. Como metodologia, foi realizada uma análise crítica documental às normas da World Rugby e foram realizadas entrevistas a pessoas relacionadas com o universo desportivo em Portugal. Observou-se que as regras elaboradas criam uma hierarquia entre os sexos binários e entre as próprias identidades trans, focam em medidas de comparação insuficientes como a força de repetição única, e descartam fatores como aumento de massa gorda após reposição hormonal. Na ausência da possibilidade de prosseguir uma carreira desportiva, verificou-se uma capacidade de agência e de encaixe noutros âmbitos que, não sendo a prática desportiva competitiva enquanto atletas, permite às pessoas trans chegar a outras funções de relevo dentro do universo desportivo.

Descargas

La descarga de datos todavía no está disponible.

Biografía del autor/a

Ana Lúcia Santos, Centro Estudos Sociais, Universidade de Coimbra
Doctora en Estudios Feministas por la Facultad de Letras de la Universidad de Coimbra.Investigadora en proyectos sobre ciudadanía LGBTQI+ del Centro de Estudios Sociales de laUniversidad de Coimbra desde 2012. Líneas de investigación: teoría queer, estudiosfeministas, filosofía, posthumanismo, biología feminista.

Citas

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA. (2011). Lei nº 7/2011 de 15 de março de 2011. Diário da República Eletrónico, 1ª Série, nº 52. https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/lei/7-2011-278187

BASKETBALL AUSTRALIA. (2021). Guidelines for the Inclusion of Transgender and Gender Diverse People in Community Basketball. https://www.australia.basketball/wp-content/uploads/2022/03/Transgender-Inclusion-Guidelines-December-2021.pdf

BUZUVIS, E. (2012). Including transgender athletes in sex-segregated sport including transgender athletes. Em G. B. Cunningham (Ed.), Sexual orientation and gender identity in sport: Essays from activists (pp. 23-34). Center for Sport Management Research and Education. https://digitalcommons.law.wne.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1248&context=facschol

CANADIAN CENTRE FOR ETHICS IN SPORT. (2022). Transgender women athletes and elite sport: A scientific review executive summary. www.cces.ca/sites/default/files/content/docs/pdf/transgenderwomenathletesandelitesport-ascientificreview-e-final.pdf

CICCONETTI, J. E MAGALHÃES, V. (2019). Banheiros públicos como espaços de regulação cotidiana dos gêneros: entrevistas com mulheres lésbicas. Cadernos CERU, 30(2), 102-123. https://doi.org/10.11606/issn.2595-2536.v30i2p102-123

DA CRUZ-FERREIRA, A. M. E FONTES RIBEIRO, C. A. (2013). Perfil antropométrico e fisiológico dos jogadores de rugby portugueses. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 19(1), 48-51. https://doi.org/10.1590/S1517-86922013000100010

FREIRE, P. (2016). Atleta: Substantivo Feminino [Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho]. https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/46697/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Paula%20Freire.pdf

FOUCAULT, M. (1994). História da sexualidade. A vontade de saber. Relógio D’Água.

FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE NATAÇÃO. (2022). Policy on Eligibility for the Men’s and Women’s Competiton Categories. https://resources.fina.org/fina/document/2022/06/19/525de003-51f4-47d3-8d5a-716dac5f77c7/FINA-INCLUSION-POLICY-AND-APPENDICES-FINAL-.pdf

FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE RUGBY. (2020). Plano estratégico 2020-2024. https://fpr.pt/galeria/documentacao/documentacao_5f4e19f01eef3_plano-estrategico-2020-2024.pdf

HALBERSTAM, J. (1998). Female masculinity. Duke University Press.

HALBERSTAM, J. (2011). The queer art of failure. Duke University Press.

HARGIE, O. D., MITCHELL, D. H. E SOMERVILLE, I. J. (2017). “People have a knack of making you feel excluded if they catch on to your difference”: Transgender experiences of exclusion in sport. Sociology of Sport, 52(2), 223-239. https://doi.org/10.1177/1012690215583283

INTERVENÇÃO LÉSBICA, GAY BISSEXUAL, TRANS E INTERSEXC. (2018). Estudo nacional sobre o ambiente escolar-Jovens LGBTI+ 2016/2017. https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/121161/2/342527.pdf

INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE. (2003). Statement of the Stockholm consensus on sex reassignment in sports. https://stillmed.olympic.org/Documents/Reports/EN/en_report_905.pdf

INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE. (2015). IOC Consensus Meeting on Sex Reassignment and Hyperandrogenism. https://stillmed.olympic.org/Documents/Commissions_PDFfiles/Medical_commission/2015-11_ioc_consensus_meeting_on_sex_reassignment_and_hyperandrogenism-en.pdf

JONES, B. A., ARCELUS, J., BOUMAN, W. P. E HAYCRAFT, E. (2017). Sport and transgender people: A systematic review of the literature relating to sport participation and competitive sport policies. Sports Medicine, 47, 701-716. https://doi.org/10.1007/s40279-016-0621-y

PRECIADO, B. (2013). Basura y género. Mear/Cagar. Masculino/Feminino. Parole de Queer, 2, 14-17. https://pt.scribd.com/fullscreen/79994784?access_key=key-1kzk7tzxrj9solcq2esc

ROBERTS, T. A., SMALLEY, J. E AHRENDT, D. (2020). Effect of gender affirming hormones on athletic performance in transwomen and transmen: Implications for sporting organisations and legislators. British Journal of Sports Medicine, 55(11), 557-583. https://bjsm.bmj.com/content/55/11/577.abstract

RUBIO, K. E SIMÕES, A. C. (1999). De espectadoras a protagonistas: A conquista do espaço esportivo pelas mulheres. Movimento, 5(11), 50-56. https://doi.org/10.22456/1982-8918.2484

SILVESTRIN, J. P. E VAZ, A. F. (2021). Transmasculinidades no esporte: entre corpos e práticas dissonantes. Revista Estudos Feministas, 29(2), 1-13. https://doi.org/10.1590/1806-9584-2021v29n279366

VAN CAENEGEM E., WIERCKX, K., TAES, Y., SCHREINER, T., VANDEWALLE, S., TOYE, K., KAUFMAN, JM. E T'SJOEN G,. (2015). Preservation of volumetric bone density and geometry in trans women during cross-sex hormonal therapy: a prospective observational study. Osteoporosis International, 26(1), 35-47. https://link.springer.com/article/10.1007/s00198-014-2805-3

WIIK, A., LUNDBERG, T. R., RULLMAN, E., ANDERSON, D. P., HOLMBERG, M., MANDIĆ, M., BRISMAR, T. B., DAHLQVIST LEINHARD, O., CHANPEN, S., FLANAGAN, J. N., ARVER, S. Y GUSTAFSSON, T. (2020). Muscle Strength, Size, and Composition Following 12 Months of Gender-affirming Treatment in Transgender Individuals. Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, 105(3), 805-813.

WOMEN’S FLACK TRACK DERBY ASSOCIATION. (s.f.). Women’s Flack Track Derby Association Statement about Gender. https://wftda.com/wftda-gender-statement

WORLD ATHLETICS. (2023). Eligibility Regulations for Transgender Athletes. https://worldathletics.org/about-iaaf/documents/book-of-rules

WORLD RUGBY. (2020a). Summary of Transgender biology and Performance Research. https://resources.world.rugby/worldrugby/document/2020/10/09/a67e3cc3-7dea-4f1e-b523-2cba1073729d/Transgender-Research_Summary-of-data_ENGLISH-09.10.2020.pdf

WORLD RUGBY. (2020b). Transgender Guidelines. https://www.world.rugby/the-game/player-welfare/guidelines/transgender

WORLD RUGBY. (2020c). Transgender Guidelines - FAQ’s. https://www.world.rugby/the-game/player-welfare/guidelines/transgender/faqs

Publicado
2023-05-16
Sección
Aportes